Choro e sofro, que bom #3


Como vou tratar algo com profundidade em espaços superficiais? Não dá. Esse texto não vai captar toda a angústia, consolo e respostas que uma conversa contém.  O peso emocional de um relato não se encontra tanto nas palavras ditas quanto no ato de contar; é na conversa que o coração fica exposto à cura. As lágrimas e as expressões faciais dizem mais que a boca, e é nos olhos que se acha a intensidade do sofrimento. Num blog como esse não é possível depositar um coração e uma história. Nem num livro, apenas num coração. Só um coração consegue registrar fielmente a profundidade de uma angústia e comover um corpo inteiro. Infelizmente, apenas escrevendo não posso dizer exatamente o que quero que meus leitores entendam. A dor é grande demais para ser contida em 500 ou mais palavras, ela transcende até a barreira da fala, e por isso choramos. O choro é o que acontece quando não consigo dizer o que mais quero dizer. Quando choro, faço lágrimas das palavras que não consigo verbalizar – por isso disse outra vez que uma lágrima derramada em favor de alguém honra mais que centenas de aplausos e consola mais que mil palavras. O choro vem da perturbação da intimidade do ser, assim, mexeu com choro, mexeu com o ser.


Se o choro é a única maneira de dizer o que não pode ser dito, como vou dizer, num texto, o que apenas consegui entender no choro? Bom, não vou dizer. Não cabe nesse espaço. Mas isto posso dizer: seja qual for o problema, a resposta não é algo, é alguém. Nas minhas angústias, não procuro algo que me faça superá-las, e sim alguém que as sinta como as sinto; não preciso que sejam exterminadas, preciso que sejam compreendidas por alguém que já as compreendeu, e ali acharei consolo, não exterminando o problema, mas dividindo-o com alguém. Geralmente quero algo que me faça sentir melhor, é o que todos queremos, enquanto que o que preciso mesmo é de alguém que me faça enxergar-me por quem sou.

Não quero cura, quero doentes que comigo me ajudem a viver com a doença de ser miserável; quero um médico que, além de me tratar, queira ser meu amigo e entenda que dói! Dói ser quem sou e não poder ser diferente! Não quero idiotas me dando conselhos, quero desgraçados que se compadeçam de mim, e assim fazendo, reciprocamente, consolar e curar.

Irmãos, o Evangelho não é algo que se oferece, mas alguém que se apresenta. A Palavra de Deus não é uma mensagem que se prega, e sim uma pessoa de quem se fala; é uma pessoa que deixou sua glória e habitou entre desgraçados para agraciá-los. Logo, quem crê, deixa sua glória para habitar entre desgraçados e agraciá-los com o alimento que vem de cima. Nem o Cristianismo é algo, é alguém: Jesus Cristo. Não apenas se obedece ao que Ele ensinou nem se imita o que fez, mas acima de tudo se ama quem Ele é: Deus e Senhor. Ele amou primeiro, então a gente pode amar de volta. Mas como amá-lo sem entender o que Ele fez na cruz? E como entender o que fez na cruz sem entender o porquê de tê-lo feito? Eu entendi o que e por que Ele fez aquilo, e por isso choro, não de amores, mas de nojo por ser quem sou, e em seguida, de alegria por Ele ser quem é, pois sabendo essas duas coisas: quem sou e quem Ele é, tenho a alma apaziguada. Deus sabia o que estava comprando quando morreu por nós. Deus não comprou nossa redenção no MercadoLivre: Ele sabia exatamente o que havia no homem. Somos nós que demoramos pra entender o conteúdo do produto comprado.

Tudo que tenho pra dizer sobre o que gostaria de dizer não pode ser dito, apenas gemido e chorado. Os problemas com que me deparei em colegas não podem ser resolvidos, apenas carregados. Se houvesse algo que os eliminasse, certamente Jesus teria dito algo como “eliminai os fardos uns dos outros”, mas Ele disse “carregai”. Fardo é problema, e problema se carrega no coração. Não posso fazer muito senão chorar pelos problemas de outros que carrego no coração. Então carreguem os meus também que carrego os de vocês, talvez um dia isso nos cure e nos faça entender o porquê de Jesus ter chorado (João 11:35).


Guilherme Adriano


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